Ainda é cedo para comemorar. Quando vemos que o Brasil está à frente da média global com 24% de mulheres na cadeira de CFOs, é tentador abrir o champanhe. Mas será que esse número realmente diz algo sobre o quanto avançamos – ou sobre o quanto ainda precisamos avançar em liderança feminina?
Na superfície, parece um progresso. Mas quando olhamos mais fundo, percebemos que a questão não é apenas “quantas mulheres chegaram lá”, mas como e por que elas chegaram – e, sobretudo, o que isso diz sobre o modelo de liderança que estamos perpetuando. E é justamente aí que a liderança feminina precisa ser interpretada não como exceção, mas como base de um novo paradigma.
Enquanto executivos, vivemos cercados de metas, KPIs e estratégias para impulsionar o crescimento. Falamos em horizontalidade, colaboração, integração entre áreas. Mas raramente nos perguntamos: quem está sentado na mesa? Quem está tomando essas decisões e modelando o futuro dos negócios?
Por muito tempo, construímos discursos sobre cultura horizontal e colaborativa. Pregamos o compartilhamento de métricas, a construção conjunta de estratégias, a integração. Mas deixamos de lado uma pergunta crucial: quem ocupa essas cadeiras?
Por décadas – ou melhor, desde sempre – mulheres ocupam cadeiras de liderança e transformam empresas. Elas trazem mudanças culturais, novas visões de mercado e resultados que vão muito além do financeiro. Só que esse impacto, muitas vezes, é silenciado ou diluído na narrativa dominante sobre liderança feminina.
Este dado – 24% de CFOs mulheres no Brasil – é mais do que uma estatística. É um convite à reflexão. Não para que batamos palmas e nos acomodemos, mas para repensarmos o conceito de liderança que adotamos. Liderar não é só sobre “performance” ou “resultados”. É sobre construir um ambiente onde todas as vozes possam contribuir para o crescimento do negócio. É sobre questionar se estamos realmente preparados para uma liderança diversa e plural – ou se ainda insistimos em velhos modelos pouco inclusivos.
E mais: é sobre entender que diversidade não é um bônus para o balanço social ou uma boa manchete. É uma estratégia de negócio. Uma forma de trazer mais repertório, mais visão sistêmica e, sim, mais resultados. A liderança feminina não é um adendo, mas um alicerce que amplia horizontes.
Como líderes, temos a responsabilidade de desconstruir as barreiras invisíveis que separam as pessoas das cadeiras de decisão. Não basta abrir espaço – é preciso criar estruturas horizontais que permitam que todos, independente do gênero, tenham condições reais de influenciar e transformar. Isso implica também rever modelos de avaliação, cultura organizacional e até o perfil dos conselhos de administração.
As empresas tradicionais ainda carregam modelos engessados, onde o topo da pirâmide é ocupado por perfis muito similares. Startups, por outro lado, têm tentado flexibilizar essas estruturas, mas ainda enfrentam seus próprios desafios culturais. O ponto de equilíbrio está em evoluir – com consciência e propósito. E colocar a liderança feminina como um pilar dessa evolução.
Não se trata de uma bandeira. Trata-se de uma competência. Líderes mulheres demonstram maior empatia, visão sistêmica e resiliência diante de contextos complexos. Dados do Peterson Institute mostram que empresas com mais mulheres em cargos executivos têm performance financeira superior à média. Ou seja, liderança feminina é vantagem competitiva.
O que este dado de 24% nos diz não é apenas sobre o “avanço” das mulheres CFOs no Brasil. Ele nos provoca a repensar a ideia de liderança como um todo. Não é só sobre ter mais mulheres no C-level, mas sobre ter lideranças mais diversas, mais humanas e mais preparadas para o futuro. E esse futuro exige decisões mais colaborativas, mais plurais, mais alinhadas com os desafios do mundo contemporâneo.
O impacto de uma mulher na liderança vai muito além da sua cadeira. Ele reverbera na cultura da empresa, na forma como ela se conecta com seus clientes e stakeholders, e na maneira como ela inova e cresce. Liderança feminina é um vetor de transformação – e um espelho do que ainda precisa ser feito.
Se queremos construir empresas mais fortes e adaptáveis, precisamos olhar para a liderança com mais generosidade e menos apego a velhos padrões. É preciso abraçar a diversidade – de gênero, de experiência, de visão. Não por compliance, mas por estratégia. E isso começa com uma decisão clara: priorizar a liderança feminina como força de renovação cultural e estratégica.
É hora de transformar as cadeiras de decisão em verdadeiros laboratórios de inovação e cultura. Onde o “quem” importa tanto quanto o “como”. Onde o potencial de transformação não é medido apenas por indicadores, mas pela capacidade de incluir e inspirar. Onde a liderança feminina deixa de ser pauta e passa a ser prática consolidada.
E você, que lidera, está disposto a desconstruir e reconstruir? A abrir espaço real para novas vozes? A transformar a cultura da sua empresa a partir de dentro?
Esse é o verdadeiro desafio: fazer da liderança feminina não uma tendência ou uma exceção, mas a norma que move negócios com mais inteligência, sensibilidade e impacto.
Texto inspirado em:
Meio & Mensagem – CFOs Mulheres ganham espaço no Brasil, mas ainda são minoria
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